'Jesus, alegria dos homens' – J. S. Bach. Interpretada pelo genial Baden Powell.
Uma mulher indigente caminhava
ansiosa pela rua, ela se chamava Maria. Um homem esfarrapado a acompanhava, ele
se chamava José. De repente, no meio de toda a gente, surgiu um menino correndo
afobado sob os gritos raivosos de guardas e senhores de barba em seu encalço: “Pega!
Pega! Ladrão! Moleque, trombadinha! Bateu minha carteira!". Nisto, um
ônibus em alta velocidade descendo a grande avenida não conseguiu desviar e
atropelou o menino que caiu esmagado no asfalto quente como churrasco-grego da
praça pública. Desgraçadamente, a morte foi instantânea. O menino se chamava
Jesus. A mãe se aproximou então do pequenino corpo esmagado de seu filho e
chorou, copiosamente. O pai clamou aos Céus. Mas não veio voz divina alguma, e
nem anjo redentor. Não vieram também os reis magos; apenas os guardas da
polícia metropolitana ajudaram a velar aquele altar. Os animalzinhos sagrados
de presépio também não compareceram envoltos na manjedoura; mas por todos os
lados se viam generosos ratos, baratas e outros bichos da mesma laia. A única
oração que se cantou ali foi uma ode desordenada pela chegada do
rabecão. Entre tantos olhares estilhaçados, era noite de Natal.
Este post dedico a ti,
leitor – qual considero como sendo mais que leitor, tenho-lhe apreço
de amizade. Ora! Como não ter carinho pela querida leitora, sempre a ajudar
este mísero blogueiro com seus sonhos bonitos, reflexivos e, por vezes,
românticos. E como não estender a mão ao senhor leitor e sua respeitosa
generosidade ao desconsiderar qualquer falha estilística de escrita ou enfado
do enredo. Então fico assim, assim; feliz e agradecido. E encantado. Pois nesta
casa mora a saudade e sua memória já grisalha, não as regras literárias ou a
vaidade de escritor – ainda porque não tenho certeza se blogues e
escrita literária têm a mesma natureza. De maneira que este blogue não é da
larva de seu autor, como geralmente o atribuem. As histórias que por aqui são
escritas pertencem aos visitantes que por aqui se aventuram e por aqui deixam
um maravilhoso e estrondoso pedaço de sua vida.
Demais, neste sentido, o
autor não passa exclusivamente de editor. Confesso que invento um tanto aqui
outro acolá; contudo, nenhuma onda virtual é capaz de devolver-me à realidade, mas também não saio dela. Fico
no meio do caminho, sempre. Ali onde não se é possível concretizar a
imaginação, entra a minha escrita – que é a tua escrita, leitor. Para
saber ouvi-lo tive de cortar minha própria língua. Fiz bem. Esta casa é como um
livro velho, uma lembrança cinza numa página cansada. E será sempre o nosso
canto de encontro, o nosso canto de contar e ler histórias.
Leitor, é isto; nada mais
lhe digo. Termine a leitura, feche o livro. Viva, beba e sorria. Faça festa.
Que o cego leia, que o surdo escute, que o aleijado saia por aí a pular... Que
haja em todo o tempo mais perguntas do que respostas definitivas... Que haja
sonho! Que a próxima década seja ainda mais próspera para o povo brasileiro! O ano seguinte será sempre o melhor. E adeus!
Por
Ricardo Novais