Rolezinho

Cena do filme “Christine - O Carro Assassino (John Carpenter, 1983), baseado na obra de Stephen King.

Eram 20 horas e 04 minutos. Eu estava cansado da faculdade. Curso de engenharia, muito chato. Não disse nada a meus pais, faltei na aula. Liguei para minha namorada, noite agradável para um rolezinho.

- Cami, vamos sair?

- Passa aqui em meia hora – ela gostou da ideia.

Não tinha ninguém na minha casa, saí pela garagem do prédio e o porteiro nem me viu. Carro todo preto, vidros escuros; nenhum curioso consegue ver nada dentro. Dirigi sete quilômetros, passei na casa da Cami às 20 horas e 39 minutos.

Paramos numa lanchonete. Comemos lanches, bebemos umas cervejas. Saímos. Calculei levá-la em um motel bem escondido, lá pela periferia da cidade, para foder a noite inteira. No meio do trânsito, Cami já resolveu ir adiantando os procedimentos. Ela abaixou a cabeça, abriu o zíper da minha calça e começou a me lamber. Liguei o som no talo, usando uma mão para beber uma cerveja gelada e de resto só para me concentrar na cabeça frenética daquela gostosa com os seios à mostra balançando no meu colo. Gozei na cara dela, foi um impacto violento...

Desci no carro fechando o zíper e lançando a long neck vazia bem longe, no meio de um terreno baldio. Cami também desceu do carro, meio atordoada, tinha batido a cabeça no volante, a testa estava sangrando. Olhei para todos os lados, escuridão de dar medo. Breu total. Era uma rua deserta, um bairro afastado que nem tem nome, não tinha viva alma naquele lugar; apenas um corpo jogado, uns cinco ou seis metros, para trás de onde eu tinha estacionado. Manobrei o carro, faróis apontados para a cena. Única luz na treva. Havia pegado o cara em cheio, provavelmente o pára-choque o atravessou acima dos joelhos. Estávamos assustados, Cami e eu. O homem, vestido de terno barato, todo ensanguentado e destroçado, parecia ser um desses crentes, talvez um pastor; uma bíblia de capa preta estava jogada perto do meio fio; ligando as coisas, julguei que a bíblia era dele; pastor filho da puta!

Cami me olhou, iluminada apenas pelos faróis acusatórios do automóvel e por uma lua débil, respirou fundo e disse:

- Renê, me leve pra casa.

- Mas não vamos mais ao motel?

Não fomos. Passamos rapidamente numa farmácia, que era caminho, compramos  uns curativos e a levei para casa. Em seguida, dirigi com o som no talo até meu apartamento, guardei o carro de ré na garagem do prédio – nem sinal do porteiro ou outro funcionário do condomínio; dei uma olhada no capô: amassado, pára-choque quebrado, mas sem maiores avarias.

Minha casa continuava vazia; entrei, tomei banho, comi uns nacos de nuggets que estavam na geladeira; fui para o quarto, dormi bem. No outro dia, era sábado. Mandei lavar o carro, trocar o pára-choque, mas o capô ficou amassado mesmo; pastor filho da puta! No final da tarde, liguei para a Cami. Rolezinho. Pernoitamos no motel da periferia.


Por Ricardo Novais
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