A Comédia dos Namorados

O ser humano, dizem os cientistas e também alguns psicanalistas, se destaca no meio natural pela sua capacidade, altamente desenvolvida, de poder raciocinar. Os cães e gatos, por exemplo, não se preocupam tanto em agradar o sexo oposto por não possuirem esta capacidade, altamente desenvolvida, de raciocinar; apenas satisfazem o reles desejo de seus instintos animais.

No entanto, ainda que os homens tenham a capacidade altamente desenvolvida de raciocínio, um ser humano adulto pensa bem diferente de outro que ainda está em processo de formação. Não apenas a formação anatômica, mas também do próprio alargamento da capacidade altamente desenvolvida de raciocinar.

Neste sábado, tão agradável em São Paulo, levei minha namoradinha para passear. Ela tem 20 anos, gosta da "Shakira do Curdistão" (nossa!, como estou desatualizado do hodierno universo pop juvenil, mas também que lugarzinho longe... ) e trata-me, carinhosamente, pelo epíteto de “comédia”.

Ocorre – não pense os namorados que estão lendo a história que estou criticando a minha garota, ao contrário, é tão somente uma constatação: se os seres humanos ganham em experiência com os erros que vão cometendo ao passar da vida; perdem, porém, a pureza juvenil –, no entanto, um ser humano com 30 anos de idade já não guarda mais a prudente paciência que tinha aos 20, e, presumivelmente, isto afeta suas relações interpessoais.

Mas veja que coisa curiosa, dona leitora; por que as mulheres, sejam elas jovens ou um pouco mais maduras, querem sempre impor a vontade de ferro nos encontros amorosos? Não me tome por machista, minha amiga; ainda se eu contivesse a maestria de um Nelson Rodrigues para o intento, mas não é o caso; sou apenas um namorado um pouco perdido nesta juventude que já se destaca sobre a minha.

Demais, até concordo que se a vontade feminina prevalece é pela sua suprema sabedoria sobre um ser humano inferior, no caso, o ser humano do sexo masculino.

Mas se ambos os sexos são seres humanos, com capacidade altamente desenvolvida de raciocínio, por que há, então, o embate de vontades?

Minha namoradinha queria por que queria ir ao cinema assistir ao filme Os Normais, em cartaz nas salas da cidade desde a semana passada. Porém, as minhas intenções, para um aprazível sábado à noite, eram outras... Não as confessarei aqui, mas asseguro que não incluíam ir se esbarrar num cinema trivial de um shopping ordinário.

No entanto, deves imaginar que assistimos mesmo foi ao: Os Normais. Se imaginaste isto..., acertou! Mas eu gostei do filme, não é de todo ruim, até lhe recomendo como boa comédia – será por isto que esta minha garota teimosa chama-me de “comédia”? Não sei. Sei que o filme tem boas piadas para contar, depois à mesa de bar, entre amigos.

Contudo, eu resolvi agir como um autêntico ser humano, com a capacidade altamente desenvolvida de raciocínio, e terminei o namoro. Não daria mesmo certo; quem sabe se fechassem todas as salas de cinema desta cidade... Não! Os restaurantes e as praças de alimentação dos shoppings ainda continuariam abertos.


Por Ricardo Novais

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