Um Arco-íris na Escuridão



Ronnie James Dio, lendário vocalista do Elf, Rainbow, Black Sabbath e do Heaven And Hell, está doente. Um câncer estomacal foi constatado em estágio inicial e ele está se tratando. Escrevo este texto porque torço por ele. Para o bem do heavy/hard não será isto que impedirá que o cantor baixote continue a soltar o seu vozeirão visceral e clássico nos palcos roqueiros do mundo. Mas, além da importância inigualável de Dio para a música, reconheço neste artista um caráter e um senso de consciência incomum na 'cultura pop'.

Em 1983, Dio lançou um dos maiores discos da história do heavy metal, "Holy Diver". O guitarrista, sempre hard, Vivian Campbell estava lá para forjar o som pesado característico da banda que aliou técnica pavimentada de teclados (depois muito utilizadas por grupos de heavy metal melódico), excelente conjunto de base feito por baixo e bateria, tudo sendo incorporado à extraordinária energia que emana do âmago da alma de Ronnie James Dio.

"Holy Diver" é um álbum clássico, a música tema é sensacional, uma obra-prima em todos os sentidos... Dio rulez (Mob Rules)!



Quando Micheal Jackson e Quincy Jones produziram a música “We are the world” para arrecadar dinheiro na luta contra a fome na África, Ronnie James Dio, um sujeito formidável com honra divina no qual todos têm amizade, produziu o “Hear n’ Aid, We’re stars”, que tinha o mesmo intuito do projeto do “We are the world” - o esforço de alguns artistas dos anos oitenta do século passado foi um gesto simples, mas aguçou a consciência para que todos (principalmente os mais ricos) se engajassem ao combate da falta de alimentos para os povos pobres deste planeta, como se um arco-íris surgisse depois de uma tempestade anunciando que o bom tempo chegaria... 'Rainbow in the dark'.

O americano de Portsmouth, Ronnie James Dio, convidou os grandes nomes do metal e do hard rock para gravarem um tema com a finalidade de ajudar a combater a fome na África; o que ficou sendo o “Hear n’ Aid, We’re stars”. Muitos sequer tinham consciência do que aquela atitude representava, mas estavam lá imortalizando aquele gesto porque admiravam cordialmente o amigo Dio. E foi mesmo uma postura digna, louvável e corajosa dele. Arrecadou-se U$ 1 milhão, valor pecuniário exorbitante naquela época. Embora o músico seja também conhecido por popularizar o sinal do heavy metal (trata-se de fechar o punho e levantar o dedo "mindinho" e indicador dando gestual de chifres; o termo usado por Dio para o sinal é "moloch", que era o gesto que sua avó católica fazia para espantar mau-olhado, "molocchio") e muitos maldizem-no como demoníaco por isto, aquela reunião excepcional promovida por ele entre os 'bangers' e o ambiente artístico provou que há muita generosidade entre cabeludos que fazem som ácido, conceitual e de matéria sobressaltada. Há um videoclipe que mostra os ídolos da música pesada em estúdio gravando o tema escrito por Dio.




A música hoje em dia é coisa tão efêmera... Antigamente também havia o 'mainstream' com laços comerciais, mas agora parece não haver um só sujeito consciente que consiga reunir amigos, seja por uma boa causa ou seja pelo talento apenas; neste tempos, tão apreciados por muitos, tudo envolve dinheiro ou prestígio para a carreira. Os irlandeses do U2, por exemplo, estão sempre envolvidos em projetos humanitários, mas eu desconfio tanto de Ongs... Salve, Ronnie James Dio!


Por Ricardo Novais

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