Ódio no Futebol Paulista


Ontem, assistindo a derrota do time do São Paulo diante do Flamengo por 2 a 1 (que virada do Mengão!), fiquei pensando na frase que um amigo, que também acompanhava comigo ao jogo pela Tv de um boteco, naturalmente! Ele deferiu: “Bem-feito! Odeio estes bambis!...”

Curioso, eu também não torço pelo São Paulo, mas estou longe de odiar o clube do Morumbi – ou qualquer outro time grande do futebol brasileiro.

Até bem pouco tempo atrás, a rivalidade mais ferrenha dos paulistas no futebol era contra os cariocas, e assim mesmo a disputa era para ser o melhor: Rio ou São Paulo? Quem sabe se o "esfriamento" da rivalidade dos dois Estados esteja no fato dos cariocas estarem em baixa – aliás, muito em baixa no momento. Enquanto isto o São Paulo Futebol Clube e os outros paulistas estão em alta nas últimas temporadas... Será isto? Não sei.

Ademais, sou de um tempo que o Tricolor Paulista era conhecido apenas por Pó-de-arroz (alcunha vinda do Tricolor do Rio, o Flu das Elites), ou então era reconhecido por aquele velhinho risonho, o santo São Paulo. Mas bambi, onde já se viu? Não que eu seja contra homossexuais, e também não sou contrário ao humor nos setores da sociedade, mas é que neste caso passou do limite do bom gosto – denominam os tricolores como bambis de forma pejorativa e discriminatória, como estigma de ódio ao cidadão que pensa diferente ou ao sujeito que tem melhores idéias e planejamento.

Alguns cronistas dizem que o São Paulo é apenas o time a ser batido nesta década por causa dos títulos que o clube andou ganhando nos últimos anos, e é, portanto, natural que todos queiram vencer o Tricolor. Hum... Há um problema latente nesta tese. Mas se todo mundo também queria ganhar do Santos Futebol Clube, nos anos de 1960, e não há registro que odiavam o time da Vila Belmiro. Mesmo o Corinthians, no final da década de 1990 e início da de 2000, era “secado” por seus rivais, mas não consta que reuniam contra os Alvinegros do Parque São Jorge sentimentos tão estranhos de ódio pulsante. Já no outro parque, Parque Antártica, o Palmeiras um dia foi – acreditem! – uma máquina de estraçalhar adversários, na época da Parmalat, década de 1990, no entanto, recordo bem que todos respeitavam o Verdão com veneração ao futebol arte. Lembro-me, ainda criança, que o próprio São Paulo Futebol Clube, da Era Telê Santana, reunia muitos admiradores de seus rivais, e não detinham contra o ele este sentimento ruim e desprezível – que nada tem haver com o esporte bretão.

Por outro lado, parece também que alguns dos próprios diretores do São Paulo ajudaram a difundir este sentimento desprezível, pois agem com certa arrogância pedante e com incompreensível menosprezo e inimizade aos “Co-Irmãos” Paulistas – e até de outros Estados. Assim como também há os torcedores ignóbeis que por certo não conhecem a história gloriosa do São Paulo Futebol Clube e somente querem ver nutrir o malefício odioso entres as facções criadas no futebol. Mas é verdade, devo eu reconhecer, que existem muitos torcedores que não cultuam a tradição do time pelo qual torcem em muitos outros grandes clubes espalhados pelo Brasil e, certamente, pelo mundo afora.

Eu não compactuo do ódio num esporte tão apaixonante como o futebol. Também não gostaria de assistir a um campeonato nacional, seja ele qual for, sem São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos. Mas, para não taxarem-me de preconceituoso contra times de menor expressão no cenário futebolístico nacional – assim como para não polemizar neste blog classificando quem são estes grandes clubes – já vou terminando este texto impressionado.

Findo as letras, entretanto, dizendo que o São Paulo Futebol Clube é uma instituição do Estado de São Paulo; assim como os são outros clubes paulistas – incluindo aí a Lusa, o Juventus, o extinto Paulistano, o Nacional, o Guarani, a Ponte, a Ferroviária etc... Meu Deus! São tantos os tradicionais por estas bandas!... Um time que surgiu na Praça da Sé, da força dissidente de dois clubes, em 1935, e que foi lá para os lados do bairro do Morumbi, quando lá era longe mesmo, pela união de vários homens amantes deste esporte mágico chamado futebol, e que sempre respeitaram os seus adversários, que ainda leva o nome da cidade mais cosmopolita da America Latina, não pode, de maneira alguma, ser reduzido a um maldito estigma de ódio. Hodiernamente o São Paulo é um time tão popular como o é o Corinthians e o Flamengo, ou seja, deixou há muito de ser um clube de nicho dos ricos ou endinheirados industriais para invadir todos os setores desta nossa pujante sociedade moderna – inclusive sim os gays, os pobres, as mulheres executivas e os homens do campo.

Rivalidade, sim; ódio, jamais!

Por Ricardo Novais
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