Prova de Ética

A prova do Enem deste ano, exame individual oferecido aos estudantes que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores, foi cancelada. A decisão de cancelar a prova foi tomada por Fernando Haddad, Ministro da Educação, após ter sido alertado pela reportagem de O Estado de São Paulo sobre a quebra do sigilo do exame. "Há fortes indícios de que houve vazamento, 99% de chance", afirmou o presidente do Inep.

Na tarde de quarta-feira, 30, o jornal paulista foi procurado por um homem que dizia ter duas provas do Enem que seriam aplicadas neste próximo sábado e domingo. Propôs entregá-las à reportagem em troca de R$ 500 mil. "Isto aqui é muito sério, derruba o ministério", garantiu o tal homem.

O Estado de São Paulo consultou a veracidade do material, não se comprometendo com a sua compra – segundo as fontes do próprio jornal.

O ministro Haddad confirmou o vazamento ao consultar técnicos do Inep, órgão do ministério responsável pelo Enem. As questões originais estavam guardadas em um cofre, que foi aberto ontem à noite para confirmar a informação: sim, eram idênticas, fraudaram o exame!

Este fato, uma fraude, pode até ser grave, mas, a mim, o que mais chama atenção é a atitude do jornal O Estado de São Paulo. Deu prova cabal de credibilidade e lisura de sua linha editorial; o que não é de se espantar, basta nos lembrarmos do francês fundador da instituição, ainda denominada A Província de São Paulo, que saia pela região a cavalo soando uma corneta e dando as notícas para a população da época, assim como da ética do então jornalista deste jornal Euclides da Cunha, que relatou com honestidade, às vezes até subjetiva, as atrocidades ocorridas na Guerra de Canudos.

Ora, senhor leitor contestador, está bem, tens razão; o francês da corneta só vendia seus jornais aos salões nobres ou das ascendentes burguesias; e Euclides da Cunha levou para Canudos todos os preconceitos de uma sociedade que tinha no pensamento galicista os seus ideais – principalmente no de Joseph Arthur Gobineau, autor de Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças, tida como a bíblia do racismo moderno e que influenciou a chamada Era do Racismo Científico, com suas ideias de “embranquecimento” e europeização da população brasileira. Mas, pelo que consta, o jornal O Estado de S. Paulo e seu correspondente Euclides da Cunha se retrataram da cobertura infundada da imprensa sobre os jagunços de Antonio Conselheiro – Euclides escreveu até mesmo Os Sertões, onde fica evidente o avanço sobre a sua visão de mundo.

De qualquer modo, será que outros órgãos de imprensa abraçariam uma atitude parecida com esta adotada pelo Estadão neste caso do Enem? É de se pensar...

E é de se cumprimentar o jornal O Estado de São Paulo – mais que de jornalismo deu prova irrefutável de ética. Podemos, até mesmo, continuar ainda acreditando na imparcialidade de nossos veículos de comunicação, ao menos em alguns momentos e em alguns deles...


Por Ricardo Novais

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