A Maior Derrota do Santos FC (?)

Ontem presenciei dois torcedores alvi-negros travando calorosa discussão. Eles acusavam um ao outro de maior vítima dos seus respectivos times do coração: Santos Futebol Clube e Sport Club Corinthians Paulista. Percebi que enquanto um citava a época do tabu de mais de 20 anos sem derrotas para o rival, o outro retrucava com a já histórica goleada de 7 a 1 (num jogo estranho onde o time do Parque São Jorge, 777 venceu o clube da Vila Belmiro por um vexatório placar elástico).

Mas dali a pouco o santista, provavelmente numa pesquisa pronta em sua cabeça, já que parecia bem jovem, começou a enumerar jogos com placares de 8 a 1; 8 a 2; 7 a 2 e por aí vai...

Porém, ocorreu o senão daquela discussão futebolística entre os dois amigos, os 11 a 0 que o Corinthians aplicou nos santistas no longínquo ano de 1920.

Corinthians e Santos são os clubes grandes mais antigos do Estado de São Paulo, um foi fundado no dia 1 de setembro de 1910 (ano que vem é o centenário do clube); já o time da Vila mais famosa do mundo é datado de 14 de abril de 1912 (neste dia foi também o afundamento trágico do transatlântico Titanic, diziam os cronistas que a fundação do Santos FC ofuscou a busca por informações da catástrofe ocorrida em alto-mar onde morreram muitas pessoas - no mundo só se falava do nascimento do glorioso Peixe!).

Sendo assim, como os dois fazem o clássico mais antigo destas bandas, há muitas histórias. Santos e Corinthians, por si só, já é sempre mais lenda do que fato, mais fábula do que notícia, mais literatura do que história. Neste 'Confronto dos Alvinegros', como os cronistas antigos denominaram o clássico, o Corinthians tem 119 vitórias, o Santos venceu 94 duelos e aconteceram 83 empates; isto em, até a presente data, 295 jogos disputados. Por certo que os números crescerão e podem inverter-se, como já ocorreu durante a incrível história desta batalha de titãs do futebol paulista. De modo que a rivalidade cresce mais a cada dia...



Imagem rara da época; memória do Clássico mais antigo do futebol paulista.

De volta a um dos primeiros capítulos deste confronto de inimigos que se respeitam, no dia 4 de julho de 1920, os dois clubes jogaram pelo Campeonato Paulista. Durante muitos anos, Eduardo Taurisano foi o juiz mais odiado pela torcida santista.

Já bem no início deste jogo, ele não marcou dois pênaltis em Arnaldo Silveira e anulou gol de Millon. Em compensação, validou os três gols do Corinthians em claro impedimento, segundo a crônica da época.

Na etapa final, depois de desprezar outros três pênaltis em favor do Santos, a polícia montada teve que entrar em campo.

Reiniciado o jogo, Taurisano expulsou o ponta de lança santista o acusando de incomodar os policiais. Depois marcou um pênalti inexistente para o Corinthians. O goleiro Randolfo perdeu a paciência e foi expulso também. Para o seu lugar foi Cícero Ratto. Gambarotta cobrou: 4 a 0. No lance seguinte, Cícero que, lembrem-se bem, a esta altura era o goleiro pôs a mão na bola dentro de sua área, Taurisano marcou pênalti e expulsou Ratto. Gambarrota cobrou para o gol vazio: 5 a 0.

A partir daí os jogadores santistas começaram a fazer pênaltis propositais, nervosos iam diretamente nas pernas dos jogadores corintianos, pensando inclusive que o time do Parque São Jorge estava mancomunado com o juiz - não há provas, mas isto pode sim ter sido bem possível.

Bilu, grande jogador do Santos, foi expulso e houve briga generalizada. Em seguida, os atletas peixeiros, enfurecidos em campo, por protesto e para tentarem recuperar a calma, davam as costas à bola, e os gols dos mosqueteiros foram saindo.

No total, cinco jogadores do alvi-negro praiano permaneciam em campo, nenhum do Corinthians foi expulso neste jogo, que terminou aos 21 minutos do segundo tempo com o placar de 11 a 0 para o Corinthians.

A revolta dos jogadores, torcedores e da diretoria do Santos FC foi tão grande que eles abandonaram o Campeonato Paulista daquele ano.

Mas o Santos Futebol Clube viveu outros momentos, bem mais gloriosos e felizes, no Estádio Urbano Caldeira, a mágica Vila Belmiro.




Por Ricardo Novais
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* Fonte: Federação Paulista de Futebol; Sport Club Corinthians Paulista - Web Site Oficial; Santos Futebol Clube - Web Site Oficial; Livros: Dicionário Santista, José Roberto Torero, 2005, Rio de Janeiro, Ediouro; e O Grande Jogo, Celso Unzelte e Odir Cunha, 2008, São Paulo, Editora Novo Século.
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