Quando a vanglória é o assassinato de um homem, seja este quem for, deve ser porque a angústia já tomou conta do mundo... A angústia de se viver*. -- Foto: Google Imagens. |
Matutando em
Kierkegaard, que foi, em tantos aspectos, o arauto destas espécies de
experiência vivida e, de qualquer maneira, um excelente conhecedor em matéria
de angústia; escreveu a este respeito, que “o
nada, que é o objetivo da angústia, assume, de alguma maneira e
progressivamente, figura de realidade. (...) O nada da angústia é, pois, neste
aspecto um complexo de pressentimentos que se reflete em si próprios e se
tornam cada vez mais próximo do indivíduo”. Enfim, parece bom refletir
sobre o aforismo deste filósofo; pois podemos pensar que este nada da angústia
derruba e violenta os conceitos estratificados.
Já
Schopenhauer diria: “viver é sofrer”.
Concordemos que a vontade humana é concebida como algo sem qualquer meta ou
finalidade, desta maneira, gerando uma inevitável dor. O prazer é apenas um
momento fugaz de ausência da dor, porém,
desgraçadamente, nosso júbilo é sempre instável, finito e temerário. Um tanto
quanto pessimista em relação ao circuito da vida. Mas, eis que é fato, a
elegância e a extravagância da maldade, devagarzinho, virem e se encarnarem na
rotina e na trivialidade da sociedade.
Posto, com
efeito, que não sou o arauto deste grande circo de horrores; por isso, como diz
Nietzsche, “os homens não têm de fugir à
vida como os pessimistas, mas como alegres convivas de um banquete que desejam
suas taças novamente cheias, dirão à vida: uma vez mais”. Assim,
benevolência, afeição, objetividade, humildade, subserviência, piedade, compaixão,
amor ao próximo, constituem valores inferiores, pelo orgulho, pela altivez,
pelo risco, pela personalidade criadora, pelo amor ao distante. O negativo
subsiste somente como invasão própria à afirmação, como a crítica cabal que
acompanha a criação. Em todo o caso, em Sobre
Verdade e Mentira
no Sentido Extra-Moral, do mesmo inquietante Friedrich Nietzsche, leva-nos
a crer que vivemos num contexto mesmo extravagante, mas de cidadãos obedientes,
com espírito que impede a evolução de uma cultura livre, tornando-a deslumbrada
e estereotipada; ou, como diz o próprio homem que têm seus escritos e si
próprio fora do tempo: “alguns nascem
póstumos”, outros têm “obrigação de
mentir segundo uma convenção sólida, mentir em rebanho, em um estilo
obrigatório para todos”.
Mas ora,
leitor amigo, valendo-me, por esta hora, do poeta Augusto dos Anjos, que
alguns, desde tempos remotos até o atual, qualificaram como marginal; este
magnífico poeta, também da angústia, declamaria: “Tenho uma vontade absurda de ser Cristo / Para sacrificar-me pelos
homens!”.
Por Ricardo Novais
* 'A angústia de se viver'; capítulo CLI de O Boêmio, Ricardo Novais, Bookess, S. Paulo, 2010.Tweet