Belle Époque

Conversava com uma amiga sobre a vida. Ela afirmava que o dia mais importante da vida é sempre o dia seguinte, que devemos fazer o melhor hoje para colhermos amanhã. Só no dia seguinte sabemos como o dia anterior foi importante. Mensagem esperançosa, no entanto, a mim soou muito pueril, como num sonho muito bonito no qual temos que acordar sem querer.

Ora; e o dia seguinte de uma grande bebedeira, por exemplo? Não me parece que um bêbado de ressaca julgue ser este o melhor dia de sua vida. E se for o dia seguinte a um velório então? Ih... Parece que temos um problema nesta bonita mensagem de esperança; não acham leitores? Estão enfadados do texto já?

Quem sabe um dia eu escreverei melhor, quiçá eu serei um grande estilista da palavra e assim minha escrita agradará mais aos leitores que, por ventura, lerem minhas laudas... Quem sabe, também, eu me esforce e leia mais aos textos da La Belle Époque... Quem sabe, quem sabe...

Em todo o caso, sem ser muito pessimista ou torturador de quem lê este blog, acometeu-me o pensamento de Arthur Schopenhauer sobre a vida. Curioso! Porque relembrei esta ideia dele agora? Já faz tanto tempo que li este pensamento, nem sei mais se ainda pode estar atual... Mas, enfim, ele costumava dizer que “a vida é um pêndulo entre o sofrimento e o tédio”. É; ainda parece correto!

Parece correto também pensar numa teoria que aparece no O Boêmio – livro que está publicado neste blog. "O mundo é um circuito fechado em quatro pontos envoltos em energia, aleatórias e desconhecidas, subdividido em duas partes antagônicas: Alegria e tristeza, desejo e angústia. A alegria vem para eliminar a tristeza existente, em seguida ocorre uma natural sensação de prazer, como um fio condutor, que irá preparar o terreno para o surgimento do desejo que, no entanto, acarreta, fatalmente, no surgimento da angústia; esta, por sua vez, retorna, normalmente, a tristeza, que ainda pode se apresentar com novas formas ou constituição diferente da originária. E é, impreterivelmente, nesta ordem que mencionei acima; pois os pontos energéticos não vão de encontro um com o outro, não se completam e nem mesmo andam juntos, apenas servem de alimento para o surgimento do próximo ponto de energia. Entra um, sai outro! É, exatamente, por isto que não há, essencialmente, equilíbrio no mundo".

Assim, este mundo é uma representação das relações mantidas com este circuito fechado de quatro pontos, como os pontos cardinais ou as estações do ano.

O verão se sobrepõe à primavera e o inverno se sobrepõe ao outono, mas o verão não encontra o inverno; porque tanto a primavera quanto o outono preparam o terreno para o cultivo da próxima safra.

Alguns dirão ser esta minha peculiar representação do mundo, tão somente, a felicidade ou busca desta. Em todo caso, como não conheço a dona felicidade e, ainda, ela me parece apenas a aparência externa das essências, eu prefiro mesmo acreditar que o circuito fechado seja a própria vida. Vida seguindo seu curso...

Veja senhor leitor pensador e dona leitora filósofa; veja o que vens de uma simples conversa com uma amiga e um simples pensamento que me acometeu; pensamento este que nem meu é, é do pessimista senhor Arthur. Porque fui eu relembrar deste pensamento dele, meu Deus? A culpa é de um vigário que conheci, há muito tempo, lá no Paraná; não tivesse ele me indicado os livros do senhor Arthur, também não os teria lido e agora não teria desenvolvido toda esta ideia. Maldito padreco! Ora! Quantas linhas eu desperdicei nesta ideia tola de circuito fechado como representação do mundo? Não fosse mais este meu desvio a assuntos enfadonhos e pesados, talvez, este blog tivesse até mais leitores. Maldito hábito este o meu de encher de retórica balofa e sem significado os espíritos mais críticos; repare como muitos temas insurgentes nestas páginas que estou a publicar são elementos independentes, sem relação com o contexto, na qual fica clara a ruptura com o sentido do tema que eu próprio abordei... Por que eu não escrevo com mais prazer e mais esperança? Há tantos leitores que apreciam estes tempos de neo-Belle Époque... Está decidido! Não me pegarei mais do pensamento de outros! A não ser que seja necessário ao blog; claro! Senão, jamais!



Por Ricardo Novais

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* A figura que aparece neste texto é um quadro de Paul Poiret, artista francês da Belle Époque. O período entre o fim do século XIX e a Primeira Guerra Mundial é conhecido por Belle Époque. O nome vem da França, a qual estava passando por tempos muito bons, de paz, prosperidade, ostentação, requinte e polimento. Ou seja, típica sociedade de aparências, na qual o povo brasileiro tanto admira e até se espelha
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