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- Desculpe, não posso!
- Então, um café?
- Talvez um lanche...
Desta maneira, deixamos o estacionamento a pé – acredita, senhor leitor, que encontrei este meu carro perverso e fujão apenas no outro dia? E assim mesmo somente com a ajuda do garagista. No entanto, àquela altura meu humor era excelente, aquela mulher me devolveu, totalmente, a alegria naquele dia chuvoso... Bom, mas como ia dizendo, Bárbara e eu deixamos a garagem e corremos naquele dilúvio por alguns metros até a lanchonete do outro lado das torres. Havia um guarda-chuva escuro, mas emprestei meu paletó a ela, improvisando assim uma capa-de-chuva, e também tentei me proteger com minha encharcada pasta. É óbvio que não adiantou muito, nos molhamos bastante. Contudo, apesar do tempo sisudo em São Paulo , a tarde era agradável:
- Seu marido está lhe esperando?
Ela se mantinha muda, apenas tinha um olhar penetrante, sedutor. Sinceramente, dona leitora, era difícil se controlar. Então, desviei a maliciosa prosa para um tema universalmente clássico:
- Será que não vai parar de chover?...
- É... Não sei.
- Estamos bem molhados, hein?
- O quê está acontecendo?
- São Pedro abriu as torneiras...
Bárbara me interrompeu sem dizer palavra, repreendeu-me com outro olhar, mas este era de autocontrole. Quantos olhares têm esta mulher, meu Deus? Isto passou bem rápido pela cabeça porque eu me espantei com a expressão dela e com a insistência da pergunta:
- O que está acontecendo?
- Como assim? Do que está falando, mocinha?
- Você está entendendo! Você está entendendo! Por que estamos aqui?
- Ora, porque... – eu gaguejei com as mãos.
- Estamos atraídos... Um pelo outro!
De fato, fiquei surpreso, mas reconheço que ela disse a verdade. Houve um curto silêncio, em seguida balbuciei:
- Sim, sim. De fato, você tem razão. Eu não sei do porquê. Você é um vulcão! E eu... Eu fui atingido por tuas lavas magmáticas e viscosas...
- Nossa! – ela achou graça naquilo. – Mas...
"Sempre tem um: mas”, eu pensei. Ela concluiu a sentença:
- Somos casados!
- Isto não nos impede de nada! Quer dizer, isto não nos impede de sentirmos atração por outras pessoas, estou certo?
Ela baixou a cabeça e exclamou:
- Droga! O que está acontecendo?!
- Você sabe o que esta acontecendo... – proferi, pausadamente, mas confesso que com extrema solércia. Completei em seguida:
- Somos adultos, não acha?
Bem, encurtando esta ensopada recordação, tão terna, este encontro, que nem chegou a ser um encontro convencional, sendo mais um maravilhoso evento da casualidade, em todo o caso, foi esta a primeira vez em que nós nos defrontamos por acerto amoroso, fulminante, lascivo e de união sexual. Exato! Coito vasto que veio como solução. É! Existem coisas que passe o tempo, passe os anos, passe toda a vida não as esquecemos jamais. Sou capaz de me lembrar do estalido da chuva batendo à janela, da cama macia e do lençol branco, dos beijos e dos abraços, dos carinhos e das carícias, do enlace dos corpos e de seus cheiros, do perfume deleitoso dela, dos gestos elegantes, das singelas artimanhas, de sua voz entrecortada e seus sussurros... Ah, Bárbara! Inesquecível Bárbara!
Opa! Faz-se necessário minha presteza e prudência.
Como percebeu, leitor amigo, estas reminiscências enveredaram para a memória concupiscente. Sendo assim, para não vexar as damas, pelo menos por enquanto, vou terminando a narração menos próximo da intimidade. Em todo caso, foi neste encontro chuvoso, narrado logo acima, em que se deu o início de um relacionamento de uma mulher casada comigo também incluso nesta prerrogativa. O clima da precipitação atmosférica, daquele primeiro dia em que começou este romance, é boa medida para fixar à mente o que foi este envolvimento. Flutuando por carregadas nuvens baixas de cúmulos-nimbo, ocasionando relâmpagos, trovões e saraivadas, perigosas e destrutivas. Este é um caso de infidelidade matrimonial, isto é, um adultério passado na cidade grande, tão propícia à adultérios.
Por Ricardo Novais