Maria Magdalena em Êxtase, obra do talentoso errante Caravaggio.
Aproximou-se a prostituta.
Ela já era minha conhecida. Sorriu-me com charme à cara, dissimulou toda a
aventura errante da noite e disse-me com delicadeza:
- Como vai o meu Carlos?
Como vai o meu amor?
Não fique muito mortificada,
dona leitora; sim, ela sabia o meu nome e eu também sabia o dela.
- Madalena...
Eu a conhecia por Madalena,
mas era impossível saber o seu nome verdadeiro. Também, isto pouco importava.
Ao leitor digo apenas que o bom é saber que eu adorava Madalena, quase poderia
tê-la amado e morrido disto. Aquela bela mulher de curtos olhinhos de quem quer ir para cama com você, mas com trejeitos de moça recatada, desconfiava de meus sentimentos, mas o que a prostituta não imaginou é que eu teria amor... Se soubesses,
Madalena, o quando a amei, por certo, ririas de mim... Não digo mais nada, a
leitora não compreende, prefere se vexar com asco. Amar as putas é algo
incrível! Isto que confesso, minha senhora, é um lugar inalcançável que fica
entre a realidade e a imaginação. Por isto estou a escrever, só a escrita
chega lá. Se eu criasse aqui um texto autobiográfico ou memorialista e depois
dissesse que escrevi um conto seria ridículo. Pois, se eu me comportasse desta
maneira tola e balofa, a minha Maria Madalena teria as lágrimas de arrependimento, que um dia derramou com sinceridade, maculada por este seu amante do acaso.
Ricardo Novais
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