José Alencar, alguns simplesmente compreendem a vida. [foto: Revista Época - abril/2008]. |
Emudeci. A morte venceu. E venceu
a vida! Logo a vida, que sempre falou tão bem da morte, morrer assim sem
avisar. Morreu porque viver é ato único. Embora a vida seja tão boa... todo
mundo tem que morrer um dia, é ofício inevitável.
Ainda mais inevitável, no
entanto, é saber que todo homem faz perguntas fascinantes, e que até confortam outros;
é alento na angústia e reflexão na alegria. Caço aqui comigo que a sabedoria vem
do encontro das paisagens de montanhas das Gerais, cheias de acolá, com a
vista pouca acidentada das campinas do planalto bandeirante. Mas não sei.
Certo mesmo é que a sabedoria vem de algum ambiente hostil.
Noutro dia, já faz alguns anos,
li uma crônica de Rubem Alves, publicada num grande jornal do país, onde ele,
brilhantemente, intrigou-me com suas perguntas inesperadas que massageiam tanto
a nossa alma desavisada. Dizia ele, “(...)
há dores que servem a nada. A dor da morte serve para qual ser humano?”. Nenhum,
pensei. Embora sempre exista alguma serventia para a dor, mesmo a mais
inesperada. Pois ao terminar a leitura daquele questionamento tão profundo,
alcancei que a resposta pouco importava. A
morte e a vida não são contrárias. São irmãs. E isto é um alívio danado, mais até do que outra compreensão universal.
Mas o diabo é que as notícias
repentinas nos pegam de calça-curta. O coração fica apertadinho como o quê. A
surpresa de uma mulher bonita dizendo que ama a gente é uma coisa muito boa, mas a surpresa de uma mulher soturna nos chamando no meio da noite para o sono eterno
é assustadora.
Também eu tenho medo de morrer. E
muito. Ora! Se a vida é tão boa... Vou me esforçando para viver fazendo
perguntas sem obter as respostas. Do definitivo? Não quero nada definitivo, a não
ser a redentora vontade da vida. Alguns não têm causa mortis, por saberem viver, simplesmente retiram-se sem dar mais palavras.
* Dedico este texto à memória de
José Alencar, um Brasileiro;
e agora faço silêncio, sem mais palavras.
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