João Guimarães Rosa, mineiro da central mineira, com os pés para o norte, dizia que ‘as pessoas não morrem, ficam encantadas’.
Sempre que alguém querido fica encantado, lembro-me da crônica de Rubem Alves, outro mineiro que, brilhantemente, intrigou-me com suas perguntas inesperadas que massageiam tanto a nossa alma desavisada. Dizia ele, “(...) há dores que servem a nada. A dor da morte serve para qual ser humano? ”. Nenhum, pensei. Embora sempre exista alguma serventia para a dor, mesmo a mais inesperada.
Pois que ao terminar a leitura daquele questionamento tão profundo, alcancei que a resposta pouco importava. A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. E isto é um alívio danado, mais até do que outra compreensão universal, e me faz crer que meu pai, outro mineiro de coração de doce de leite lá de acolá do Vale do Rio Doce, já lhe estendeu a mão, em sussurro de amizade tranquila, dizendo-lhe que a lembrança e o amor são eternos como um sobressalto encantado que não apresenta ameaça.
Por Ricardo Novais