Homem Positivo


Foto: CAIO AMY/FotoRepórter/Estadão.

Quando Augusto Botelho nasceu foi admitido como servidor da humanidade. Criança alegre, seus pais logo se voltaram à sua educação; “menino alienado”, veio-lhes a preocupação. No dia seguinte ao debute de seus 15 anos de homem, Augusto foi iniciado no sacerdócio de seu inevitável destino. Dedicou-se ao estudo de muitas ciências: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral. Contudo, foi um jovem em contato com a vida de sua verdadeira vocação.

Por infortúnio, seu pai morreu de alcoolismo. Sua mãe, desgostosa, suicidou-se; ela julgou ter direito a isto. Seu tutor o violentara diariamente, apenas aos 21 anos livrou-se do martírio. Achou graça nas pesquisas de sua vida, algumas vezes correu atrás da sorte grande... Augusto era elegante, como era; era vaidoso, como era; era como o cão passeando pela calçada à procura de algum osso, ou o soldado de guerra à procura de algum pescoço para cravar-lhe uma facada ou de alguma cabeça para decepar-lhe o cérebro.

Embora ele ainda não soubesse bem qual seria, nem se deveria acreditar em Deus, nos homens, na ciência ou na ordem, aceitou o seu destino. Rapaz refinado, Augusto Botelho faria tudo pela sua raça e o progresso dela. Casou-se com Maria Floresta Augusta, como regra geral. Não foi feliz, mas a cônjuge foi; não pode se divorciar, e Maria não teve filhos.

Reconhecido sua viuvez eterna, ainda era jovem e foi tratar de sua missão sonhando com a sua própria incorporação à humanidade. Desgraçadamente achou-se o mais melancólico, amarelo, desvirtuado e falso de todos os homens sob à face da Terra. De todo modo que ele tinha medo de não ser incluído à humanidade.

Já velho, Augusto Botelho passa então de seu trabalho ativo, ou mesmo passivo, para viver como conselheiro, auxiliando a sociedade a qual pertence com sua experiência.

Apreciando o conjunto da existência objetiva que se acaba, passou ele a registrar suas impressões finais daquilo que poderia se transformar em uma parcela subjetiva do Grande-Ser. Iniciou, com consciência digna dos grandes cientistas, o culto de seu próprio enterro. Por um momento achou tudo perdido, sem jeito de melhora e duvidou do tal progresso no qual manteve as esperanças desde quando ainda era um menino. Porém, em seguida, recuperou a serenidade e fez o que tinha que fazer: preparar o próprio velório. Não pode fazer, no entanto, sem derramar uma única e longa lágrima; não se sabe ao certo se a lágrima era de tristeza ou mesmo de alegria, os rios de seus olhos foram-se com ele.

Finalmente Augusto foi incorporado à humanidade: 7 anos depois de sua morte, ou transformação, teve julgamento de sua memória de morto. Ainda não se sabe se será morto considerado digno de ser incorporado definitivamente à humanidade, mas, como esta sociedade é bastante antagônica, seus restos mortais foram conduzidos a bosque sagrado, em sepulturas conjuntas com seus entes queridos. Seus discípulos afirmam que este bosque sagrado circunda o templo da humanidade.

"O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". E do fim, creio que estão escrevendo algo por aí nestes salões de sociedade; já este meu texto que também está no fim de sua linhas, por ora, não vai mal. De modo que corrija ou elimine, caro senhor leitor e querida amiga dona leitora, tanto lá como cá, o que sentir vontade ou julgar ruim. Parece que a ciência não gosta muito da prosa com a religião, então, apostemos em nossas próprias convicções e que tenhamos opinião firme; rogando sempre que a nossa boa ciência conserve e aperfeiçoe a humanidade... Mas que o nosso bom Deus também nos perdoe!

Por Ricardo Novais







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